quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

mein mongenstern. (II)

Eu sempre soube que ela gosta de sofrer.
Gene dominante, quase externo, por isso somos ela e eu.
E damos as mãos.
As dela são tão macias de displicente cuidado. Ela não usa cremes caros, quase não trata as unhas nem as colore com esmaltes chamativos, limitando-as a tons sempre parecidíssimos de cintilante mediano e branco. Mãos de quarenta e um anos.
As minhas não são bonitas.
Mastigo as bordas das minhas carnes, tirando as cutículas e sangue,e por conveniência ou ansiedade, quase nunca uso esmaltes pra não ter que me enfeitar.
A destra sempre segura meus apoios e é a que mais se arrisca a cheiros fortes de tabaco e vida. A canhota é limpa e não me serve.

A minha mãe não deveria afagar-me, nem beijar minhas maçãs; Não me sinto digna das suas insônias nem de sua ternura mais enrugada e macia que as minhas mãos estúpidas, de dedos tortos.
(Mas ela gosta de sofrer...)

Os meus olhos estão vermelhos de cansaço e esperança, porque são duas da manhã e eu ainda penso inutilidades calejadas enquanto ela dorme ali tranquila porque eu já cheguei da rua e agora está tudo muito bem.

Um comentário:

Unknown disse...

Lembrei tanto tanto de estar em casa e acordá-la (mãe) com o barulho do portão.
Chegar sabendo que, ao menos em alguma hora do meu dia, alguém esperava por mim.



(me senti uma emo. ou uma velha.)